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O Tempo em Rio Bonito

Hospital x Prefeitura, um filme antigo e enfadonho

28/02/2014 14:18:44

Flávio Azevedo

A prefeita Solange Almeida está distribuindo uma carta aberta para informar, aos usuários e funcionários do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV), o que está acontecendo com o hospital, que ela afirma ter “péssima administração”. Informações de bastidores e testemunhos de funcionários que não se identificam por medo de perder o emprego, confirmam que sai do comando do HRDV, a informação de que a falta de médicos e pagamento dos funcionários acontece por culpa da Prefeitura, que não repassa os valores devidos à instituição. Com números em mãos, a prefeita mostra que pagou ao HRDV, em 2013, um valor da ordem de R$ 20 milhões entre recursos próprios e verbas estaduais e federais. Aliás, cerca de R$ 5 milhões a mais que em 2012.

Apesar desse montante significativo de dinheiro, a falta de médico foi uma constante reclamação em 2013. O que indigna a chefe do poder Executivo é que o problema acaba sendo atribuído a ela, que deseja assinar o novo Plano Operativo Anual (POA) e a instituição não quer. O problema é que sem assinar esse convênio a Prefeitura não pode fazer os repasses que o hospital necessita. A prefeitura está com dinheiro em caixa para enviar o recurso, diz que busca a assinatura desse contrato desde o último dia 30 de dezembro, mas a instituição não assina o documento. 

Diante desse novo velho problema (Hospital x Prefeitura), a opinião pública se divide, porque os posicionamentos partidários permeiam a forma de encarar a questão. Junte a isso, o desconhecimento de causa, num país onde todos são especialistas em tudo. Aliás, qualquer um que tem perfil num site de relacionamentos se julga especialista em qualquer assunto. Participar dos fóruns onde os temas e problemas de Rio Bonito são debatidos (o que seria o ideal) nós não vemos. A argumentação da maioria é que “não adianta”, como se adiantasse ficar em casa ou no Facebook choramingando.

A questão Prefeitura x Hospital sempre caminhou na lógica da guerra fria. Ou seja, não há exposição pública de pontos de vista e opiniões, mas ataques velados através dos conhecidos e manjados círculos de amigos. Outro problema é que os temas referentes ao financiamento dos serviços prestados pelo hospital acabam sendo debatidos em locais que não são próprios para essa discussão.

O tema financiamento e prestação de serviço do hospital deveriam ser pensados e debatidos nos fóruns específicos para esse fim. A questão Hospital x Prefeitura precisa ser pensada por setores e organismos como a Secretaria Municipal de Saúde; o Conselho Municipal de Saúde, e já que o município manda dinheiro para a instituição, a Câmara de Vereadores, que conta com uma Comissão de Saúde, também deve entrar nesse debate.

Contudo, há anos as questões que envolvem a sociedade riobonitense são pensadas e debatidas em lugares que não são próprios para isso. Chega de pensar os nossos problemas no badalado Botequim MiraSauer; na piscina do Esporte Clube Fluminense; no Bar do Onça; na sauna do Rio Bonito Atlético Clube; no aconchego do Degusta; no Bar de Cristiano; na pelada do sítio de Cadinho; no intimista Supremo Restaurante; no churrasco que rolou na casa de determinado bacana, entre outros lugares. Feito isso, a cidade começará a ter novos rumos. Entretanto, não é demais perguntar: “queremos realmente caminhar para esses novos rumos, ou curtimos essa mediocridade e esses hábitos provincianos?”.

Sei que essa aberração é cultural. E para meu horror, eu também sei que muitas questões políticas da história de Rio Bonito foram decididas no antigo Gauchão, no saudoso Bar Nacional e/ou no famoso bar do Honesto. Mas chega! Vamos mudar! Rio Bonito cresce a olhos vistos e o provincianismo, as máfias, conluios e apadrinhamentos precisam ser expurgados do nosso meio. Caso isso não aconteça, nós seremos atropelados pelo crescimento que chega a reboque do Comperj.

A grande novidade desse filme repetido e enfadonho é que a prefeita vem a público dar uma declaração importante. Esperamos que o HRDV saia da trincheira e se posicione, para que a população possa fazer a sua análise e esse filme figure apenas nos arquivos históricos da nossa cidade, porque nós não aguentamos mais!

A direção do HRDV produziu uma carta respondendo a prefeita. De acordo com o texto, o POA ainda não foi assinado porque os valores propostos pela prefeitura, um valor da ordem de R$ 1,5 milhão por mês, são insuficientes para custear as despesas da instituição, que ainda fatura com contratos convênios que tem com planos de saúde e prestação de serviço particular.

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